“Líderes e gestores devem tomar atitudes imediatas e assertivas em meio a esta crise”, aponta especialista
Em meio a pandemia do
coronavírus, instituições diversas estão vivenciando situações nunca
enfrentadas e até mesmo jamais previstas, em um cenário que exige
posicionamento rápido e assertividade em decisões que podem gerar impactos
permanentes.
Neste universo, o planejamento
muitas vezes dá lugar para a humanidade e empatia, e modelos alternativos de
trabalho, como o home office, são cada vez mais aplicados por corporações – mas
será que esta medida pode ser eficiente? Também deve-se atentar para a
segurança dos colaboradores, novos posicionamentos e rotinas, além de uma
participação mais imediatista de gestores com suas equipes.
O Professor Doutor Edmarson
Bacelar Mota, coordenador do MBA em Desenvolvimento Humano de Gestores
da FGV/Decision, compartilha alguns apontamentos bastante pontuais – e
necessários – neste período de pandemia, com recomendações para gestores e
líderes serem mais assertivos e eficientes neste período de crise.
Quais são as principais recomendações para que líderes e gestores atuem da
melhor maneira durante a pandemia do coronavírus com suas equipes e locais de
trabalho?
Essa é uma pergunta com várias respostas possíveis.
Como os tipos e naturezas de trabalho são bem diversificados, em alguns casos é
possível ter pessoas trabalhando à distância, algo que mesmo antes dessa
epidemia era possível, mas nem sempre aplicado. Em ambientes de desenvolvimento
de softwares, de sistemas, ou que envolvam criatividade, que não dependam de
interação direta com o público ou manuseamento de técnicas ou tecnologias que
exijam um sistema presencial, é algo praticável. É um modelo que já existia,
mas que agora, por conta desse período que vivemos, a intensidade desse tipo de
atuação aumentou. Líderes e gestores devem tomar atitudes imediatas e
assertivas em meio a esta crise.
Este é um movimento também indicado para
diferentes contextos e cenários sempre que possível, correto?
Sim, nós mesmos da FGV estamos atuando e
vivenciando este modelo de trabalho agora. A única barreira que nós temos está
com as aulas presenciais, pois os alunos têm sempre a expectativa de encontros
presenciais, mesmo que haja o suporte online. Então este é um desafio que todos,
em diferentes contextos, enfrentamos agora: o de analisar plataformas que
possam ter sistemas mais interativos e, claro, treinar os profissionais e
preparar as pessoas para tal. Em um sistema global isso não é possível, por
exemplo, nos supermercados e outros serviços de primeira necessidade, não é
possível dispensar a presença dos funcionários. Nós não temos a estrutura para
o autoatendimento, o que até existe em termos de tecnologia, mas não é a
realidade brasileira. É necessário, mesmo com nível de automação, poder contar
com pessoas, com transportes, toda uma cadeira de atividades e funções que não
podem ser dispensadas.
Como é possível implantar um home office
eficiente e garantir sua gestão, para que a produtividade não caia neste
cenário?
Não é possível garantir a eficiência do home office,
ainda mais quando não há histórico de atuação neste modelo de trabalho, de um
home office inteligente – algo difícil de implementar do dia para a noite.
Muitas organizações tiveram tempo para testar uma tecnologia específica, em um
projeto piloto, colocando algumas pessoas em teste por um período, avaliar se este
movimento deu certo ou não... É diferente quando houve um tempo para fazer esta
transição, nós estamos fazendo isso de maneira imediata. É difícil atingir o
bom desempenho clássico, de boas práticas, mas num momento emergencial é feito
o que é possível e recomendado. Então o que podemos considerar é que, passado
esse nosso período atual, muitas empresas percebam os potenciais do home office
e aperfeiçoem as melhores maneiras de fazer a gestão deste modelo.
Pandemias como esta geram instabilidade,
ansiedade e preocupação nas equipes. Quais são estratégias para que os
colaboradores se sintam seguros nos ambientes de trabalho?
Bem, primeiramente devemos lembrar dos meios com
que os colaboradores chegam ao ambiente de trabalho, que já independem das
empresas. Em alguns casos, as próprias companhias disponibilizam recursos, como
já acontecia, por exemplo, se houvesse greves no transporte público, quando as
empresas adotam meios alternativos para deslocar seus funcionários. A melhor
maneira de garantir a segurança dos colaboradores é seguir as orientações dos
especialistas e entidades de segurança pública. Hoje, com sites especializados
e mídias à disposição, as informações são muito claras – é quase impossível que
uma pessoa hoje não saiba o que deve ser feito, apenas em casos extraordinários.
Então deve ser feito um trabalho de reforçar essa comunicação, colocar em
painéis, multiplicar nos canais de comunicação da corporação, nos locais de
trabalho.
Práticas pontuais também são necessárias, como
disponibilizar recursos preventivos, para ampliar a sensação de segurança, certo?
Sim, é necessário disponibilizar máscaras, álcool
em gel, estimular o comportamento das pessoas não se tocarem, manter distância
uma das outras. Essas são práticas essenciais para diminuir as possibilidades de
propagação do vírus. É muito mais uma questão de operacionalização, pois as
pessoas sabem dessas ações, mas é necessário reforçar isso. Hoje mesmo percebi
em um mercado que funcionários estavam com máscaras, mas um deles, no meio de
todos, estava sem, mesmo numa área de manipulação de alimentos... Alguém deve
estar atento, um supervisor, gestor, e até mesmo colegas, para chamar a atenção
para essas práticas essenciais. Isso porque não é habitual, não estamos
acostumados a este tipo de comportamento, então precisamos dessa chamada de
atenção. Em inglês se utiliza o termo nudge, que é um conceito
comportamental para lembrar de coisas que devem ser faladas para ajudar a cada
um. Devemos estar dispostos, todos, para contribuir dessa forma.
Que ações os gestores e líderes podem
desenvolver para preparar equipes de recursos humanos para atuar em momentos
como este?
Tenho a impressão de que neste momento emergencial,
quando decisões precisam ser tomadas de maneira tática e operacional, o RH não
tem como intervir diretamente. Pode auxiliar como todos os demais departamentos
da empresa, com questões legais e funcionais, mas é difícil para o RH ter uma
mobilização rápida. O que pode ser feito pelo departamento é o acompanhamento e
análise deste período para depois desenvolver estratégias e políticas maiores
para a empresa. O RH tem que acompanhar tudo de perto e depois que passarmos
por esta pandemia, tudo se normalizar, deve pensar em estratégias mais
duradoras, de home office ou outras práticas, utilizando os aprendizados com
este evento.
Qual posicionamento deve ser tomado frente a
possibilidade de ter uma crise em ambiente corporativo, como um colaborador
infectado, por exemplo?
Isso já aconteceu em algumas empresas, estamos
recebendo essas informações. O que tem acontecido é que a empresa tem isolado
esta área em específico, liberado as pessoas, orientado e feito acompanhamento
com exames e verificado possíveis contaminações, inclusive com quem teve
contato com essa pessoa, todas essas pessoas nessa rede. E nesse período as
pessoas devem ficar em isolamento, para evitar transmissões. Aqui estamos em um
momento possível de acesso rápido de testes e de monitorar o que acontece
individualmente. Infelizmente não há uma solução perfeita, devemos apenas
seguir o que é determinado, como tomar cuidados redobrados. Numa empresa, nada
impede que alguém venha de fora, que o grupo isolado e cuidadoso possa ser
contaminado por quem esteja contaminado. É por isso que as autoridades tomam
cuidados para evitar aglomerações e outros tipos de contatos entre grupos para
diminuir o risco exponencial de transmissão de vírus.
Quais são as práticas e ferramentas essenciais para
que líderes e gestores atravessem este período?
Quando falamos sobre ter empatia, compaixão, rapport,
saber se comunicar, respeitar as outras pessoas, suas posições, interpretar as
diversas formas de meios de comunicação, na prática da liderança, você tem
elementos fundamentais para ter respeito pelo outro, nas situações mais
diversas. Você entende o que está acontecendo e a ser mais disciplinado, mais
seguidor das recomendações, e isso é muito útil. Qualquer pessoa que tenha
disciplina, respeito e empatia em uma situação coletiva vai saber se comportar
para ser parte da solução e não do problema. Uma pessoa que tenha esses valores
em posição de liderança será muito mais eficaz em um momento “normal”, onde o
mundo caminha na maneira que a gente está acostumado, ou num momento de crise,
seja com uma pandemia como a do coronavírus ou outra crise interna. Estamos
sujeitos às crises particulares das empresas e negócios, ou de crises como a
enfrentada pelo petróleo, que vai afetar independentemente do coronavírus.
Então as lideranças devem ter calma, firmeza, assertividade e saber se
comunicar, entender o posicionamento do outro.
Há alguma outra recomendação para este período
de preocupação, frente a incertezas que vão além dos ambientes corporativos?